O que a moda tem a haver com a ditadura que o Brasil viveu por 30 anos? Eu diria que TUDO! Foi lá em meados dos anos 70 que uma costureira (ela não gostava de ser chamada de estilista) transformou todo seu talento e sua arte para lutar contra uma forma política opressora e injusta. Estou falando de Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel.
De todas as “estilistas”(ou melhor, costureira) que o Brasil já teve, para mim Zuzu é a maior referência. Láááá na década de 70 ela já era arrojada, pioneira e transgressora em todas as áreas de sua vida. E transformou sua arte em ativismo social, que ganhou o mundo. Numa era de roupas prontas, importadas e sintéticas, Zuzu foi contra a maré, investindo em trabalho manual, tecidos naturais e muiiita, muita brasilidade. Foi ela quem pela primeira vez trouxe o nordeste para o sudeste. Rendas, bordados, babados, cores e até mesmo o cangaço eram vistos em suas criações.”Ela trouxe para o ‘sul maravilha’, coisas que eram do ‘nordestino pobre”, disse certa vez o estilista Ronaldo Fraga. Assim ela deixou um legado lindíssimo a moda brasileira, cheia de bossa e brasilidade, que podemos facilmente definir como uma moda clássica, atemporal, e muiiito, muiiiito chique. Pensar em algo mais atual para definir o que é elegância,IMPOSSÍVEL!

Detalhes dos vesstidos em renda inspirados na arte nordestina
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014

Amei esse vestido vermelho-Quero igual!
Ocupação Zuzu-Exposição no Itaú Cultural-Março a Maio de 2014
Me lembro do dia que conheci Zuzu e sua história. Foi em 2006 quando lançaram o filme que conta seu dilema em encontrar o corpo do filho que foi morto pela ditadura militar, e minha mãe fez questão (praticamente me obrigou a assistir) que eu fosse no cinema com ela. Vale ressaltar que minha mãe passou toda a juventude sob a pressão da ditadura, que viveu no Rio de Janeiro pertinho de todas as grandes revoltas. E hoje e sempre faz questão de nos contar como era, descrever o que aconteceu,e etc. Ela diz que faz isso para que nunca mais uma juventude permita que nosso país passe por tamanho desrespeito e crueldade (Gratidão mãe por me ensinar/educar sobre minha vida, minha história, meu país de formas tão lindas como cinema e música)

Detalhes da estampa da camisa da imagem abaixo de uma das coleções de Zuzu
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014

Lenço criado por Zuzu Angel e estampado em tecido especialmente para a marca
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014

Matriz para silk em camisetas-Acervo Zuzu Angel
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014
Sem dúvidas Zuzu foi uma mulher emblemática na história brasileira. O desfile protesto que ela realizou em 1971 em Nova Iorque é um marco na história da moda brasileira e na luta contra a ditadura. No desfile apresentou vestidos totalmente brancos(até então a moda de Zuzu era extremamente colorida e viva) em estilo naif com anjos e militares bordados, que chamou atenção e fez com que todos os olhares do mundo se voltassem para a verdade sobre a ditadura militar que o Brasil estava enfrentando.

Vestidos desfilados em 1971 em NY
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014

Detalhes dos bordados dos vestidos desfilados em 1971 em NY
Foto da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014
A causa principal do desfile protesto foi a forma que Zuzu encontrou de gritar ao mundo sua dor pela perda de seu filho Stuart Angel, de 25 anos que foi preso, torturado, morto e teve seu corpo ocultado (foi dado como político desaparecido) pela ditadura no começo da década de 70. Zuzu também foi morta anos depois sem ter dito o direito de enterrar o filho. Uma semana antes do acidente que matou Zuzu, ela deixou na casa de Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu:. “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”. Desde então a luta, a história, a vida e os feitos de Zuzu tem sido lembrados em livros, filmes, música (em 1977 Chico escreveu a música Angélica em homenagem a Zuzu). Em 2014, sua memória voltará em forma de roupa, na minha opinião a forma mais linda de ressurgir e homenagear essa grande mulher. Sua filha, Hildergard Angel Jones(que é jornalista, e tem um blog/site/coluna social interessante, onde virá e mexe ela fala sobre moda, vale o click aqui), irá relançar a marca Zuzu Angel. Por enquanto, o projeto ainda está sendo formatado, mas há grandes chances da estilista Alice Tapajós (a.k.a Zibba) ser a nova estilista da marca. Alice que já trabalha em outros projetos do instituto Zuzu Angel,como o Zuleikinha, que fala de moda para o universo infanto-juvenil, é uma escolha honrosa. Em 2014 também será o ano de inauguração da “Casa Zuzu Angel, que será uma espécie de museu que abrigará as memórias de Zuzu e a historia da indústria e segmento têxteis no país. Muiiito legal mesmo. Não vejo a hora, vou fazer plantão para ter uma peça “À La Zuzu”.
No ano que que o país completa 50 anos do Golpe militar (foi no último dia 31 de março), uma exposição sobre Zuzu acontece no Itaú Cultural em São Paulo até dia 11 de maio. Eu estive na exposição (as fotos desse post fiz lá) e está incrível! Lindíssimo! Lindíssimo! Sem palavras para tudo que eu vi lá. Até meu namorado que foi arrastado amou, ficou surpreso com o talento, a garra, a força, a visão de futuro e de mundo de uma mulher, que era mineira de Curvelo,Minas Gerais, Brasileira e que teve a ousadia de mudar a história de nosso pais através da moda. Sei que esse é o último final de semana da expo, mas se você estiver lendo e estiver em Sampa, não perde tempo, larga tudo que esta fazendo, e VAI!…de coração livre, leve e solto, de braços abertos pra deixar esse tanto de delicadeza e coragem encher a vida de inspiração. A entrada é franca e você sairá de lá com uma bagagem de conhecimento em moda brasileira riquíssima, além de sair também cheia de orgulho de ser brasileira como Zuzu.

Namorado que fez cara feia para ir, no final adorou. Tks amor!
Foto no painel interativo da exposição Ocupação Zuzu-Itaú Cultural SP-Março a Maio de 2014
Beijos Perfumados
Olivia
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